Nova obra do pesquisador José Eduardo Heflinger Jr aborda rebeliões que
ajudaram a desacreditar o Brasil como país dos sonhos dos emigrantes
São
Paulo, 30 de julho de 2014 - A colonização pelo sistema de parceria
adotada no Brasil - em particular, na então Província de São Paulo -, em
meados do século XIX, foi elogiada como uma excelente alternativa para a
substituição do braço escravo pelo livre. E o senador Nicolau Pereira
de Campos Vergueiro teve um papel pioneiro nesse sentido, ao empregar
imigrantes europeus na lavoura do café, por meio do sistema de parceria.
A ideia era boa: aproveitar a situação precária de alguns países da
Europa, buscando naquele continente a mão de obra necessária para que os
fazendeiros pudessem dar conta do aumento da produção, principalmente
após a proibição do tráfico de escravos africanos para o Brasil.
O
que, então, provocou a decadência do sistema de parceria, que começou
com a Revolta dos Parceiros, ocorrida em 1856, na Fazenda Ibicaba
(propriedade do senador Vergueiro)? “A insensibilidade dos fazendeiros, o
engajamento de colonos de péssima qualidade, a ausência de uma
legislação eficiente, de uma justiça imparcial e, principalmente, porque
o governo não teve força para adotar uma solução que colocasse um fim
ao sofrimento de todos os envolvidos”, afirma o pesquisador José Eduardo
Heflinger Júnior, que há 30 anos estuda o assunto vasculhando arquivos
brasileiros e europeus. “Todos esses fatores contribuíram para
desacreditar o Brasil, durante certo período, como país dos sonhos dos
emigrantes”, acrescenta.
O extenso e valioso material coletado por Heflinger em arquivos de diversos países é a base de seu novo livro, intitulado O Sistema de Parceria e a Imigração Europeia,
que contou com incentivos da Lei Rouanet (Lei 8313/91), do Ministério
da Cultura, e o apoio de consulados, embaixadas, universidades, museus,
bibliotecas e outras instituições internacionais ligadas à cultura e à
pesquisa histórica. Bilingue (português/inglês), a obra traz documentos
inéditos, traduzidos do alemão gótico, francês e português arcaico, e
200 ilustrações raríssimas - como os belos desenhos da Baía de Paranaguá
feitos por William Michaud, suíço natural de Vevey que se estabeleceu
na Colônia de Superagüi, naquela região, e um ensaio fotográfico da
Fazenda Ibicaba, localizada em Limeira, que mostra as dependências
preservadas da propriedade que abrigou a primeira experiência
imigratória pelo sistema de parceria.
A
imigração de suíços por esse sistema ocupa uma parte expressiva do novo
livro de José Eduardo Heflinger Júnior. A Colônia de Superagüi, por
exemplo, criada por Charles Perret Gentil após seu desligamento do cargo
de cônsul geral da Suíça no Brasil, tem sua história contada em um dos
capítulos. Além disso, entre os documentos inéditos do livro,
destacam-se as cartas de Thomas Davatz, mestre-escola da Ibicaba e líder
da revolta dos colonos que viviam naquela fazenda, para o comerciante
Gustav Lutz e o então cônsul geral da Suíça, Henrich David, no período
compreendido entre o final de 1855 e dezembro de 1856.
Esse
dossiê de raro valor, encontrado no acervo do Swiss Federal Archives de
Berna, revela fatos curiosos e polêmicos. “Muitos autores elegeram
Thomas Davatz como o grande herói helvético do século retrasado,
cantando em verso e prosa a sua coragem, determinação e despojamento em
sua empreitada em defesa de seus patrícios contra a Vergueiro &
Companhia”, afirma Heflinger no livro, com base nesses documentos.
“Creio que esses pesquisadores não tinham conhecimento de que o
mestre-escola desejava se transformar em agente de emigração/imigração,
assim como em administrador de uma colônia que sonhava constituir na
região sul do Brasil Imperial. Apesar de ter assinado contrato com a
Casa Vergueiro, empreendia esforços para desacreditar a Colônia da
Fazenda Ibicaba junto ao Consulado Geral da Suíça, assim como diante das
administrações das onze comunidades helvéticas que o incumbiram de
escrever um relatório sobre as condições enfrentadas pelos imigrantes
europeus contratados pelo Sistema de Parceria para trabalhar nas
fazendas de café da Província de São Paulo”, enfatiza o autor.
Ao revelar o conteúdo de documentos inéditos, o livro O Sistema de Parceria e a Imigração Europeia traz
uma importante contribuição à reconstituição da memória histórica do
Brasil e de países como Suíça, Alemanha e Portugal, que protagonizaram a
emigração ao país pelo sistema de parceria.
Serviço:
O Sistema de Parceria e a Imigração Europeia
Autor: José Eduardo Heflinger Júnior
200 ilustrações - 200 páginas - bilingue (português/inglês)
Editora: Unigráfica
Comercialização: livrarias Saraiva e saraiva.com
Preço: R$ 50,00
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