A gravadora, responsável pela curadoria da obra do cantor e compositor, lança também livro com sua
trajetória
“Ele Vive”, disco póstumo de Taiguara lançado pela Kuarup, é pura emoção e nostalgia. É
praticamente uma colcha de retalhos que foi completada graças à dedicação de profissionais
da música e da família do compositor, morto em 1996. Dezenas de fitas cassete gravadas por
Taiguara em sua casa foram trabalhadas, catalogadas e digitalizadas. O objetivo era transpor
toda a emoção do cantor e compositor, um dos mais marcantes e polêmicos e apaixonados, e o
resultado é álbum bem atual.
O material digitalizado por Felipe Sander e Ricardo Carvalheira traz faixas inéditas e expressivas
que imprimem a característica ativista de Taiguara. A canção “Ele Vive” foi composta para o líder
comunista Luís Carlos Prestes (1898-1990), com quem Taiguara conviveu intensamente, o que lhe
rendeu vigilância cerrada pelos órgãos de repressão do governo.
Em “Moça da Noite”, Taiguara volta a um tema caro a seu cancioneiro, a exploração da mulher,
assunto também em “Conflito (Sexo Escravo)” e “Alba Esperança”. Não só de manifestos
censurados pelo governo militar é composto o álbum, que conta com uma declaração de amor,
composta para sua amiga, a cantora Vanja Orico, com letra do poeta Sergio Napp, intitulada “Te
Quero”.
O CD traz ainda quatro faixas bônus, gravadas ao vivo no Teatro João Caetano, no Rio: “Outubro”,
de Milton Nascimento e Fernando Brant, que parece ter sido composta para Taiguara, nascido
em 9 de outubro de 1945, dois de seus sucessos dos tempos dos festivais, “Modinha”, de Sérgio
Bittencourt, e “Helena, Helena, Helena”, de Alberto Land, fechando com “Hoje”, um de seus
maiores hits.
A gravação, edição, mixagem e masterização foram realizadas pelo engenheiro de som José Luís
Costa, o Gato. O músico Pedro Baldanza, baixista que trabalhou com estrelas como Gal Costa e
Elis Regina, fez a produção do disco e Ricardo Cristaldi criou as bases feitas para a voz de Taiguara
e os acompanhamentos.
Compostas em períodos distintos, as canções, assim como as gravações originais que deram
origem ao CD, somam mais de 15 anos de idade e foram recuperadas dentro da melhor técnica
possível, sempre tentando imprimir ao máximo o estilo e manter a voz original de Taiguara. As
utopias de Taiguara, seus sonhos e ideais, permanecem vivos na sua obra. A Kuarup se sente
honrada em mostrar para as novas gerações o trabalho desse artista que, mais do que qualquer
coisa, amou o Brasil e sua gente.
A Kuarup, responsável pela curadoria de boa parte da obra de Taiguara, lançou, em 2013, o
polêmico “Imyra, Tayra, Ipy” – LP retirado das lojas em 72 horas pela censura militar, em 1976
–, e nos apresenta, simultaneamente ao CD “Ele Vive”, a biografia intitulada “Os outubros de
Taiguara – Um artista contra a Ditadura: Música, Censura e Exílio”, escrita pela jornalista Janes
Rocha.
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